1984 em 2024

  • Por: Amaury Mainenti
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Observa-se que é da natureza do ser humano se comover e apoiar aqueles que aparentam sofrer ou ter sofrido muito para ascender socialmente. O indivíduo que foi abandonado pelo Estado se identifica com aquele sujeito que aparenta ter saído da pobreza a agora defende os direitos de uma população quase sempre carente de tudo. E esta, órfã de quaisquer referências dignas, se volta para esses ícones vazios de princípios superiores.

Sim, pois estas almas destituídas de princípios só se interessam por elas mesmas. São ególatras e agem como um bando de hienas pilhando a caça de outrem.

A história se repete, já dizia o famigerado filósofo florentino Nicòlo Machiavelli (1469 – 1527), tal qual se esta fosse uma peça de teatro, mudando apenas os seus atores. “Aquele que estudar cuidadosamente o passado pode prever os acontecimentos que se produzirão em cada Estado e utilizar os mesmos meios que os empregados pelos antigos. Ou então, se não há mais os remédios que já foram empregados, imaginar outros novos, segundo a semelhança dos acontecimentos. (Discursos, livro I, cap. XXXIX) ”.

E, de fato, nessa repetição histórica dos acontecimentos, os governados parecem apreciar aqueles governantes que afirmam estar ao lado da pobreza e digladiando com os ricos – sem avaliar detidamente as palavras e as condutas daqueles –, distribuindo a mancheias as benesses estatais, sem se preocupar com a geração de empregos e o fomento das atividades econômicas. Afinal, quem produz e trabalha é quem verdadeiramente sustenta as despesas de custeio e de investimentos estatais. Se o Estado não emprega seu patrimônio na geração de receitas próprias (as conhecidas receitas originárias), só pode obter recursos amoedados “metendo a mão” no bolso dos contribuintes, através dos tributos (impostos, taxas e contribuições), também conhecidos como receitas derivadas, vez que “derivam” do poder de império estatal para, através de lei, instituir e exigir tributos (art. 145, consoante com art. 150, I, da nossa Carta Magna). E aí sofre toda a sociedade: uma empresa pode ser esmagada pelos impostos e consequentemente fechar postos de trabalho para se manter no mercado, ou mesmo encerrar as suas atividades.

Os tolos acreditam em quaisquer promessas que caminham ao encontro de facilidades econômicas, sociais ou educacionais, ou quiçá de outros direitos. Sim, pois a grande maioria dos seres humanos prefere mesmo é a lei do menor esforço. Para que eu irei produzir, se posso tomar tudo daquele que tudo conquistou?

Mas não. Ao invés de, por exemplo, procurar a promoção do bem comum mediante erradicação das favelas, tais governos tentam, assessorados pela mídia, glamorizar a vida nessas coletividades, como se ali – onde falta a presença do Estado, em todos os sentidos – fosse o que há de mais belo, mesmo em face a todas as violências aos seres humanos que ali são praticadas: moradias inadequadas; falta de saneamento básico; controle social por parte de criminosos. Rebatizar as “favelas”, atribuindo-lhes o hipócrita vocábulo “comunidades”, é um verdadeiro atentado à dignidade humana.

Os governos agem como os nazistas agiam, ao encerrar os judeus nos guetos: mantê-los naquele estado degradante. E veicular novelas e seriados com esse intuito é o que há de mais torpe em nossa torpe realidade tupiniquim, pois visa manter o indivíduo vinculado permanentemente ao seu gueto, impedindo que o sujeito possa refletir sobre a sua situação e exigir aquilo que o Estado tem por fundamento: promover o bem de todos.

O discurso vazio do “politicamente correto” exorcizou o lugar da realidade nua e crua. Eis a verdade.

E não para por aí. A par da profunda crise econômica e política por que passam os países latinos na atualidade, parece-me que se intenta uma absoluta derrocada dos valores da família, sempre vista até então como a célula mater da sociedade. A aprovação de determinadas leis, retirando dos pais os poderes de condução da vida dos filhos, com a destruição da ideia de autoridade familiar, faz-me relembrar as situações contempladas por George Orwell em sua obra intitulada 1984: os filhos se encontram a serviço do Estado e delatam os próprios pais, por qualquer palavra proferida contra o Grande Irmão, ou seja, o poder constituído.

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